sábado, 30 de janeiro de 2016

A ESPOSA DO SENHOR REITOR



                                                       A ESPOSA DO SENHOR REITOR

             O senhor reitor era o senhor reitor. Soleníssimo, sisudo e autoritário. Cinzentão também, imitação menor de Salazar. Chamava-se Amilcar P. Nós, os alunos, temíamo-lo como à peste. À sua passagem levantávamo-nos, movidos pelo respeito e um certo temor.
             Mas a esposa do senhor reitor era o seu lado inebriante e solar. Falo-vos de uma deusa terrena e apetecível. Elegantíssima, trajava uma saia justa, um pouco acima do joelho, violando as regras do bom tom. Dos seus olhos verdes derRamava-se uma luz irrepetível, aureolada por uma farta cabeleira loira, que caía às ondas sobre os ombros.
               E eu, derreado pela beleza torrencial daquela cariátide lusa, sonhava com ela, à noite, revolvendo-me na cama. E fazia com ela um amor puro, infinito e caudaloso, isento de pecados e moralidades. Despia-a lentamente, beijava-lhe o aroma da pele branca e o segredo dos seios,  transtornado pela nascente caudalosa das coxas.
             Acreditei amá-la para sempre, na ignorância de que, como escrevia Vinícius, o amor é eterno enquanto dura.
           Chamava-se a minha deusa E. Contudo, para mim, sempre foi a esposa do senhor reitor.

Sem comentários:

Enviar um comentário