terça-feira, 12 de janeiro de 2016

FALTA DE PESO

                           
                       



                                                     FALTA DE PESO

            Em pleno inverno, a austera e solteirona professora Ofélia C. começava a sofrer de inesperados calores. Afogueava-se-lhe o rosto, retirava o cachecol do pescoço, despia o casacão, abria um pouco o decote da blusa. Com uma folha fazia um leque improvisado com que se abanava repetidamente. A mulher parecia arder por dentro. Minutos depois voltávamos a ver o mesmo filme, desta vez em marcha-atrás.
          Para nós, uns ignorantões destes dramas femininos, eram momentos de galhofa. De facto, cheios de frio nas carteiras, olhávamos todo aquele strip-tease com o pasmo dos estúpidos. Porém, o Titú, um moinante de alto coturno, mais velho do que nós dois anos e que já tinha ido às putas - o que lhe dava outro estatuto - garantiu com a convicção dos sábios:
         - À Ofélia o que lhe falta é peso.
        A verdade é que ainda hoje, quando vejo uma mulher com aqueles sinais da menopausa, não consigo deixar de pensar na afirmação do Titú. Há coisas do passado que se colam a nós irremediavelmente 

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