quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A MORTE NA PONTA DA CORDA





                                                           A MORTE NA PONTA DA CORDA



             Toda a cidade estranhou  que o sr. Flávio B. fosse casar. Conheciam-se-lhe os gestos amaricados, a roupa a fugir do convencional salazarista e eclesiástico, e fundamentalmente o facto de nunca ter tido namorada, apesar de já ter virado há muito os 30 anos. Entre nós, adolescentes de sangue na guelra, a etiqueta estava colada na testa do sr. Flávio -  era paneleiro.
              Filho único de um abastadíssimo comerciante de panos e flanelas italianas, sofrendo a pressão autoritária do pai para se casar  afim de ter descendência a quem deixar o negócio, o sr. Flávio - não duvidávamos - ia casar contra a sua vontade e contra a sua natureza. De casamento marcado na sé de Leiria, com cerimónia presidida pelo sr. bispo, aguardava-se o estadão propiciado pela riqueza do pai do noivo.
         Todas as nossas poucas dúvidas terminaram quando o sr. Flávio se enforcou em casa, dois dias antes da boda. O curioso ou não, é que neste acontecimento não consigo recordar quem era a noiva




   


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