segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O SENHOR PADRE ADÉLIO

                                         



                               O SENHOR PADRE ADÉLIO

        Tive explicações a Latim com osenhor padre Adélio que morava nos arrabaldes de Leiria, onde é agora o estádio municipal.
           As explicações tinham lugar bem ao final da tarde na cozinha onde cirandava uma velha criada a lavar a louça. O padre ceava cedo por causa da missa da manhã seguinte, por volta das 7. A explicação decorria com amenidade e paciência católicas, com o padre a soltar breves arrotos e a entregar-se a chupadelas de dentes. Nunca me pediu desculpa pela deselegância dos sons.
           Preocupava-o sim, a velha criada. Na sua movimentação de formiguinha ladina, ela soltava uns traques sonoros, como disparos breves de metralhadora. E o padre, numa tentativa cómica de camuflagem, arrastava a cadeira e pigarreava.
              Apesar destes circunstanciais escolhos, ainda hoje gosto de latim,- que cheguei a utilizar nas falas de algumas personagens dos meus contos e romances - embora por vezes ainda me venham à memória os sons da metralhadora intestinal.
                               
                                                alliud alic vitio est (cada um tem os seus defeitos)

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