OS CHATOS
Nenhum de nós podia adivinhar que aquilo não passava de um tique. Foi no 7º ano (actual 10º) que um novo professor se apresentou para nos dar OPAN - uma disciplina que não era mais do que propaganda do regime salazarista.
Tímido, quase sem barba na pele glabra, a sua juventude levou a contínua a barrar-lhe o caminho quando ele entrou pela 1ª vez no anexo do liceu -uma divisão do quartel de Infantaria 7 -onde os mais velhos tinham aulas. Julgou tratar-se de um aluno.
Na verdade, o nervosismo do professor coagia-o a um tique repetido e malfadado: coçar o baixo-ventre, num movimento rápido de dedos que nós, machos implacáveis com o cérebro cheio de testosterona e malandrice, interpretávamos como sendo "uma camada de chatos". Pior ainda, o gesto daquele desamparado professor, provocava o riso que nós forçávamos, reconhecendo-lhe a insegurança.
Já no 2º período, quando o tique acabou por desaparecer porque ele próprio - isto penso eu hoje- se foi sentindo mais confiante, acreditámos que o professor andava a fazer um tratamento aos chatos que passava por abundantes semicúpios com enxofre diluído em água quente. Digamos que era uma espécie de sulfatagem
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