terça-feira, 19 de janeiro de 2016

OS CHATOS

                                             

                                                     

                                                                       OS CHATOS

           Nenhum de nós podia adivinhar que aquilo não passava de um tique. Foi no 7º ano (actual 10º) que um novo professor se apresentou para nos dar OPAN - uma disciplina que não era mais do que propaganda do regime salazarista.
        Tímido, quase sem barba na pele glabra, a sua juventude levou a contínua a barrar-lhe o caminho quando ele entrou pela 1ª vez no anexo do liceu -uma divisão do quartel de Infantaria 7 -onde os mais velhos tinham aulas. Julgou tratar-se de um aluno.
             Na verdade, o nervosismo do professor coagia-o a um tique repetido e malfadado: coçar o baixo-ventre, num movimento rápido de dedos que nós, machos implacáveis com o cérebro cheio de testosterona e malandrice, interpretávamos como sendo "uma camada de chatos". Pior ainda, o gesto daquele desamparado professor, provocava o riso que nós forçávamos, reconhecendo-lhe a insegurança.
          Já no 2º período, quando o tique acabou por desaparecer porque ele próprio - isto penso eu hoje- se foi sentindo mais confiante, acreditámos que o professor andava a fazer um tratamento aos chatos que passava por abundantes semicúpios com enxofre diluído em água quente. Digamos que era uma espécie de sulfatagem

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