o galador
Na cidade de Leiria toda a gente sabia que o sr. Ramalho G. era um galador. Não resistia a uma mulher e elas, apesar de o saberem casado e pai de três filhos, deixavam-se ir nas notas melodiosas da canção do bandido. É que ele não tinha apenas a figura inebriante do Cary Grant - onde não faltava o bigodinho - além de que era de uma simpatia e gentileza cativantes, não se fazendo rogado a desembolsar notas para seduzir a pretendida.
A esposa procurava manter um dignidade a toda a prova, fingindo ignorar a traição que acontecia nas suas costas. Mas definhava de dia para dia e as suas únicas saídas de casa tinham a ver com a obrigatoriedade da missa e os afazeres na igreja de Santo Agostinho.
Até que um dia um vulcão implodiu a cidade quando se soube que ela fora encontrada na cama com um jovem carpinteiro, afilhado do marido. Eu, um rapaz a iniciar-se na adolescência e a colocar-se nas trincheiras da contestação, rejubilei. Porém, para meu grande espanto, a cidade atirou-lhe os cães do ódio e ela passou a ser designada por "a putarrona". Não lhe perdoaram a ofensa aos cânones da moralidade tradicional, que esta nem o marido beliscou.
E foi com merdices deste cariz que fui crescendo e percebendo o mundo complicado e sinuoso do ser humano.
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